Um conteúdo mínimo, porém múltiplo, e jamais comum. O Mínimo Múltiplo, agora, também é uma editora, dedicada a "projetos especiais" em ficção e não ficção. O primeiro desses projetos é a coleção Tipos Raros.
A coleção, como o título sugere, pretende tratar de figuras incomuns no cenário cultural brasileiro: artistas e intelectuais que realmente cultuaram a liberdade, rejeitaram o provincianismo e não se deixaram guiar por um grupo, movimento ou ideologia – em suma, foram “espíritos livres”, conforme dizia Nietzsche. Desses poucos que, mesmo diante das pressões de seu tempo e espaço, mantiveram o pensamento independente, refletido nas obras sólidas e de poucas concessões que legaram para um público fiel e saudoso, quatro terão suas vidas e obras abordadas: além do artista visual Iberê Camargo, tema deste romance biográfico de Nilma Lacerda que é o primeiro volume da coleção, serão assunto o cineasta Walter Hugo Khouri, o crítico, escritor e jornalista Daniel Piza e o escritor e roteirista Osman Lins.
Perguntado, em entrevista, por que se mantinha distante de movimentos das artes visuais, Iberê Camargo, autor de telas fortes e soturnas que contrariam a sempre presente expectativa por “cores” na pintura brasileira, respondeu: “Não me filio a nenhum pintor ou escola simplesmente porque há muito estou filiado a mim mesmo”. Caso peculiar no cinema nacional, Walter Hugo Khouri resistiu a patrulhas de colegas que o tachavam de “alienado” para persistir numa obra de caráter intimista e existencialista. Daniel Piza defendia a independência intelectual acima de tudo, com o que talvez tenha sido o último crítico cultural brasileiro distante de “patotas”, utopias e instituições famosas. E Osman Lins, ao mesmo tempo que desenvolvia uma ousada literatura de ficção, refletia em ensaios justamente acerca dos obstáculos que a cultura brasileira provê a quem quer realizar um trabalho intelectual livre.
Tipos Raros pretende jogar uma merecida luz sobre essas figuras, soldados de uma “guerra sem testemunhas”, nas palavras do próprio Lins, pela liberdade de pensamento e expressão. As “guerras” que travaram para se afirmar individualmente, sem compadrios, poderão ter, enfim, mais testemunhas.