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    A urna não tem culpa


    *Para o Especial Eleições 2010

    Um palpiteiro e amante das quizilas partidárias, meu pai, dizia que, antes, os políticos eram honestos e o sistema de votação, duvidoso. Mas que, após a implantação da urna eletrônica, o sistema de votação se tornou honesto, e os políticos, mesmo os mais fortes defensores da moralidade, é que teriam alguma improbidade ou desvio de conduta nas suas trajetórias públicas. Tenho minhas dúvidas quanto à honradez dos antigos políticos – os pais também erram –, pois ilicitudes sempre existiram. Rara era a divulgação nos meios de comunicação ou alguma investigação e comprovação de falcatruas realizadas dentro dos gabinetes dos gestores públicos. Já a votação por cédulas de papel, ah, essa sim, possibilitava todas as facilidades para quem, sorrateiramente, quisesse adulterar os resultados das urnas.

    Mesmo nos primeiros casos de informatização da apuração dos votos houve tentativas de fraudar os resultados oficiais das eleições. Um exemplo é o pleito de 1982 para governador do Rio de Janeiro, o primeiro após a instauração do regime militar, em que aconteceu o famoso caso Proconsult – empresa contratada para computar os votos e que, supostamente, planejava distorcer os resultados em favor de Moreira Franco, candidato do então PDS. Sorte é que foi feita uma investigação, a totalização de votos foi reiniciada e o novo governador acabou mesmo sendo Leonel Brizola, do PDT.


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    Atualmente, com as urnas eletrônicas, possibilidades de fraude ficam bem mais complicadas. Há mais agilidade e confiança. O que, temos que convir, não é ágil nem crível (em suma, não dá para aguentar) é a propaganda eleitoral gratuita em rádio e televisão. Seu papel no jogo democrático é absolutamente incompreensível. Os candidatos e partidos não se propõem a dizer nada de concreto. Os poucos minutos a que postulantes a uma vaga de deputado têm direito, por exemplo, são para que reproduzam clichês ou rapidamente falem seu nome e número. Aliás, se o partido for pequeno, nem os números eles têm tempo de falar. A fórmula de compartilhar o tempo de rádio e TV privilegia os partidos de maior representatividade – o que é justo, por sinal, mas certamente interfere na decisão do eleitor que busca informação sobre os candidatos no horário eleitoral. Entre os principais partidos e os “nanicos”, além disso, existe discrepância na produção de imagens: sigla de pouca expressão é sinônimo de programa eleitoral de má qualidade, muitas vezes gravado por câmeras amadoras em estúdios improvisados. Já partidos com mais recursos financeiros contam com equipe de profissionais formada por cineastas, publicitários, jornalistas e marqueteiros conceituados. Alguns de seus programas mais parecem um comercial de margarina: utilizam muitas externas (imagens fora do estúdio), com alta qualidade, mostrando paisagens, lugares conhecidos e gente feliz. É reservado apenas um pequeno espaço para o candidato falar – afinal, o negócio é vender a imagem dele. Nada de muitas promessas, pois estas podem ser cobradas no futuro.

    Com esse quadro de extremos, não é a toa que se nota um desinteresse geral nestas eleições. Ao lado dos programas “comerciais de margarina”, há também, como vocês já devem saber, os do tipo “mundo bizarro”, que apresentam figuras no mínimo diferentes (estou pegando leve) em busca de cargos tão sérios. E aí poderia citar dezenas deles: Mulher Pêra, Mulher Melão, Tati Quebra Barraco, Ronaldo Esper (estilista e, nas horas vagas, cleptomaníaco com inclinação por objetos de cemitério), Reginaldo Rossi (o rei do brega), Kléber Bambam e Jean Wyllys (ambos ex-Big Brother), os cantores Kiko e Leandro do KLB, os ex-jogadores de futebol Romário, Bebeto, Marcelinho Carioca, Túlio Maravilha, Vampeta e Danrlei; o ex-pugilista Maguila (com candidatura questionada no TRE), os comediantes Batoré, Sérgio Malandro e Tiririca (é triste, mas engraçado; veja no Youtube) e os comediantes involuntários, ambos do RS, Sérgio Moraes (o deputado que se lixa para a opinião pública) e Irton Marx (este defende separar o RS do Brasil – veja aqui). Isto só torna o horário eleitoral gratuito objeto de piada, um prato cheio para os humoristas de plantão. E o pior é que muitos destes “nomes” certamente serão eleitos.

    Esta corrida eleitoral insossa e cômica ao mesmo tempo só poderia dar nisso: falta de mobilizações pelas ruas, de discussão ou de qualquer coisa que lembre uma eleição de âmbito nacional. Debates sobre projetos importantes para o futuro do país ou dos estados, entre os candidatos, são pouquíssimos, e, ao que tudo indica, para presidente nem segundo turno haverá. Será isso fruto do desânimo com o atual quadro político, ou a situação econômica e aumento do poder de consumo são as justificativas para o eleitor estar tão desinteressado? Nem os candidatos novatos conseguem empolgar – até porque seguem a mesma linha de promessas vazias e frases feitas (“vou lutar por saúde, segurança, educação e moradia”) dos políticos experientes. Pelo jeito, sobrarão mesmo muitos votos para o time dos bumbuns, craques de bola, palhaços e cantores de quinta categoria.

    Mas também não é possível culpar somente o conformismo do eleitor. Afinal, ele está cansado de assistir inânime às contínuas falcatruas de quem lhe pede voto. Político digno de ser chamado por esse nome entenderia a indiferença do povo e faria algo para mudar a situação, conquistando apoio. Não vou, porém, apenas repetir aqui o que tantos já disseram sobre como os políticos brasileiros estão distantes dos interesses da população. 

    Aqueles que digitarão os números de Mulher Pêra, Reginaldo Rossi, Tiririca e demais figuras caricatas nas confiáveis urnas eletrônicas talvez estejam colocando-as no lugar certo, já que há anos nossos “representantes” em Brasília não fazem outra coisa a não ser nos provocar gargalhadas. Talvez. Certo é que teremos um dos piores congressos de todos os tempos a partir de 2011. E, independentemente de fichas limpa ou jovens eleitos, o cenário político brasileiro continuará igual – e não será problema da contagem dos votos. Que precisamos de um eleitorado mais informado e exigente e de uma reformulação no sistema político nacional, não é necessário ser cientista político para constatar. Meu pai, que era apenas um palpiteiro, constataria.

     

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