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    Mínimo e múltiplo 2008


    Sim, caro leitor: ano acabando, é tempo de fazer retrospectivas. Dizem que é mania de jornalista, e eu não concordo com várias manias de jornalista, mas reconheço a necessidade e o prazer de se olhar para os trezentos e sessenta e poucos dias passados e relembrar os fatos com que este complicado mundo nos presenteou no período. É realmente saudável ponderar, contextualizar, discutir o que se viveu. E, antes que eu continue com esse texto professoral, vamos à retrospectiva de uma vez.

    Vai em formato de notas a minha olhada no retrovisor, porque foram muitos os carros percorrendo o trânsito da cultura, do mundo e da nossa Pátria Amada. O MM, como não poderia deixar de ser, registrou e comentou vários acontecimentos do ano, e no decorrer das notas você vai encontrando os links para acessar e reler os textos a respeito. Ah! Feliz 2009.

    Literatura - Li, entre outros, livros recentes de Ian McEwan e Philip Roth, os maiores escritores de língua inglesa da atualidade e talvez os maiores do mundo em atividade também, e reli Lima Barreto e Albert Camus. O ano, porém, foi todo de Machado de Assis. Foi um prazer acompanhar o burburinho em torno do centenário da morte do nosso maior escritor e os especiais na imprensa sobre ele. Nós fizemos nossa parte aqui no MM: no especial publicado em julho, Leandro tratou de “Esaú e Jacó”, Vássia comentou “O Alienista”, Flávio abordou “Quincas Borba” e eu fiquei com a ironia, além de entrevistar, mais tarde, o grande Daniel Piza, autor da última biografia de Machado. O ‘Bruxo’ foi, disparado, o autor que mais li em 2008. Ele continua tendo muito a dizer. (Re)Encontrá-lo é sempre ótimo por sua prosa repleta de sutilezas e ambigüidades, que permanentemente traz algo novo ao leitor, e por seu olhar arguto, desencantado e irônico sobre a sociedade brasileira e sobre a condição humana. Não dá para cansar de repetir: ele é um escritor genial. No centenário de sua morte ou em qualquer época, Joaquim Maria Machado de Assis é um grande acontecimento. Que ele seja lido e discutido sempre e cada vez mais.


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    Cinema - Ano sem grandes destaques. Woody Allen compareceu com “O Sonho de Cassandra” e “Vicky Cristina Barcelona”, que, se também não são ruins, também não chegam à altura de obras-primas como “Hannah e Suas Irmãs”, “Manhattan” e “Crimes e Pecados”. Fernando Meirelles lançou um dos títulos mais esperados do ano, “Ensaio sobre a Cegueira”, adaptação do romance de José Saramago, e a crítica foi so, so. Wong Kar Wai veio com “My Blueberry Nights” (não, não citarei o título besta em português), tendo Norah Jones como atriz, mas o filme, apesar do bonito visual, é raso. Em geral, a cotação para as produções que vi foi de três estrelas. Grande filme, intenso e visualmente criativo, só mesmo o francês “O Escafandro e a Borboleta”, de Julian Schnabel.

    Música - O evento musical do ano no país, o cinqüentenário da bossa nova, foi bastante abordado aqui no MM. Arthur de Faria contou como surgiu a bossa, no Brasil dos anos 1950; eu comentei, numa Toca-disco, o gosto pelo gênero de Tom Jobim e João Gilberto entre os músicos de jazz; e outros textos sobre o tema apareceram no blog (como este e este). A questão é clara: 50 anos depois de seu nascimento, a bossa nova segue em alto prestígio, com suas harmonias sofisticadas, ritmo sincopado e melodias envolventes. É uma triste coincidência que, justamente neste ano, tenha morrido um dos compositores que preparou terreno para a bossa, ao requintar as harmonias do samba: Dorival Caymmi, o autor de “O Bem do Mar”, “Só Louco” e “Marina”, canções ao mesmo tempo singelas e complexas.

    Na MPB, 2008 marcou ainda o centenário de nascimento de Cartola, o mais elegante e lírico dos sambistas, sobre o qual Flávio escreveu, também para uma Toca-disco.

    Entre os CDs lançados, chamaram-me a atenção, na música brasileira, o de Omara Portuondo e Maria Bethânia, o “Tokyo Session” de Yamandú Costa e o “Novas Bossas”, com Milton Nascimento e o Jobim Trio. Gostei bastante dos três, embora o primeiro pudesse ter melhor repertório. No jazz, fora John Pizzarelli, Diana Krall e Madeleine Peyroux, permaneci ouvindo mais os clássicos: Chet BakerBillie Holiday, Louis Armstrong, Dave Brubeck...

    Artes visuais - Pelo menos aqui no RS, o evento do ano na área foi a mostra “Iberê Camargo: Moderno no Limite”, que marcou a inauguração, em Porto Alegre, da bela Fundação que leva o nome do pintor. Foram 89 peças representativas de todas as fases de Iberê, entre pinturas, desenhos e gravuras. O ano teve também street art no Santander Cultural e fotografias de Flávio Damm no Margs (reportei as três exposições aqui). Nada, contudo, superou a força do trabalho expressionista e sombrio de Iberê. Ele foi, 14 anos depois de sua morte, o grande nome das artes visuais em 2008.

    Ano que vem, tem Bienal do Mercosul. Já estou esperando.

    Televisão - O jornalismo, ao menos na principal emissora do país, como sempre não saiu do o quê, quem, quando, onde (mesmo tendo fatos complexos em mãos, como a ascensão de Obama) e da exploração de dramas pessoais (caso Isabella), que conferem mais audiência. Em geral, a mediocridade da programação exibida fez-me continuar ligando poucas vezes o aparelho. Um projeto que fugiu do banal foi o que se destacou: a minissérie “Capitu”, produzida em razão do centenário da morte de Machado. Eu dei minha opinião a respeito dela no blog. Escrevi que, apesar do tom caricatural e barroco, característico do diretor Luis Fernando Carvalho, “Capitu” não desrespeitou as ambigüidades de “Dom Casmurro” e foi arrebatadora do ponto de vista visual. Memorável. No mais, o que me prendeu foi o de sempre: “Manhattan Connection” no GNT, um ou outro programa da GloboNews (os especiais sobre Machado, principalmente) e séries americanas como “The Tudors”, “Law & Order” e, sempre, “Seinfeld”.

    Mundo - Fidel Castro deixou o governo em Cuba, Hugo Chávez seguiu com suas bravatas, Ingrid Betancourt foi libertada das Farc, os Jogos Olímpicos mostraram todo o potencial – e todas as limitações e contradições – do país-sede China, o sistema financeiro mundial entrou em estado de calamidade (e a crise agora começa a aparecer na economia real). Fato do ano? A eleição histórica de Barack Obama nos EUA, lógico. Passada a euforia inicial, já há quem esteja ‘decepcionado’ com o futuro presidente, por ele ter montado um ministério de veteranos do Partido Democrata depois de fazer uma campanha ancorado no tema “mudança”. Mas a pergunta que se impõe é: em tempos de incerteza, de previsões sombrias para a economia de seu país, quem vocês gostariam de ter ao lado, um time de experientes ou um time de novatos? Obama foi responsável ao escolher a equipe que escolheu. A mudança, como afirmou dias atrás, vem dele mesmo, de suas idéias para o país. Pior que o sapatado George W. Bush certamente ele não será.

    Pátria Amada - O MM discutiu bastante as eleições municipais. Flávio comentou o assunto aqui, Leandro aqui e eu aqui; Leandro e eu fizemos ainda uma entrevista com a Rosane de Oliveira. O ano eleitoral teve um político exemplar como Fernando Gabeira perdendo a eleição no Rio de Janeiro, festival de candidatos-palhaço no horário eleitoral da TV, Severino Cavalcanti e Angela Guadagnin eleitos, mais do mesmo em Porto Alegre e em São Paulo. No governo federal, foram descobertas as farras com os cartões corporativos. No Senado, houve tentativas de fazer trem da alegria, para não perder o hábito. Aqui no “estado mais politizado do Brasil” (quaquá!), a governadora Yeda Crusius, o vice Paulo Feijó e o ex-secretário Cézar Busatto protagonizaram a tragicomédia política mais eloqüente do ano. O Brasil oficial, enfim, permaneceu “burlesco e caricato”, como disse ele, Machado de Assis.

    Quanto ao Febeapá, continuou fértil. Neste final de ano, mesmo, nosso presidentedeu uma boa contribuição, ao levar o garboso termo “sifu” para um discurso, numa atitude digna dos chefes de estado mais distintos... Vaya con dios, 2008.


    lucas colombo assinaturaLucas Colombo

    Jornalista, professor, colaborador de revistas e cadernos de cultura, editor do Mínimo Múltiplo, organizador do livro "Os Melhores Textos do Mínimo Múltiplo" (Bartlebee, 2014).


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