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    Vaza Jato e as perguntas (ainda) sem respostas


    Os ânimos andam exaltados e o mundo está cada vez mais repleto de certezas. Hoje, nos cobram um posicionamento sobre tudo. Não há jeito. Tem que se optar por A ou B. Em muitos casos, ficar em cima do muro é o melhor a se fazer, pois dele é possível admirar melhor o inferno que está lá embaixo. É o caso da Vaza Jato. Ao comentar o vazamento das conversas de promotores e do então juiz responsável pela Operação Lava Jato, escolho, por ora, o terreno da dúvida.

    Não vou me deter aos aspectos legais do caso, nem ao teor do conteúdo divulgado. O foco das minhas interrogações estará nas motivações do vazamento. Outro ponto relevante que levo em conta, como a maioria das matérias sobre o vazamento levou, incluindo a do The Intercept Brasil (site que divulgou os diálogos), é a dupla Deltan Dalagnol e Sérgio Moro. Os demais personagens deixo em segundo plano.

    Não há, até o momento, nenhuma pista forte ou confirmação de quem conseguiu, e como conseguiu, acesso às conversas entre o principal procurador e o ex-juiz da Lava-Jato. Nesse cenário, existem duas hipóteses. A primeira é que Deltan ou Moro teriam vazado o diálogo. A segunda, que um hacker teria invadido o celular de um (ou ambos) e interceptado as trocas de mensagens.


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    Partindo dessas premissas, me detenho na primeira. O que ganhariam Moro e Dellagnol com essa divulgação aparentemente negativa? Gerar uma convulsão social? Quem seria beneficiado com esse jato de querosene no incêndio que, há anos, vive o país? A entrega da conversa para um site configura, decerto, uma traição. Mas para quê Dallagnol trairia Moro? E o contrário? Por que desgastar o currículo do agora ministro, ou colocar em xeque a carreira do promotor? Parece improvável (improvável?), pois a ruína de um tem o mesmo significado para o outro. Ou não? E se pensarmos por outro viés: não é a mais pura vingança, muitas vezes sem pensar nas consequências, que motiva os tantos gargantas profundas que existem mundo afora?

    Pode, contudo, haver uma estratégia envolvida nessa versão da traição. Um deles poderia estar fazendo planos a médio prazo e apostando em um reforço na imagem do herói nacional que tantos brasileiros veem em Moro e Deltan, já que o conteúdo da conversa confirma (confirmar é o verbo correto?) a intenção de prender a todo custo (“a todo custo” é a expressão correta?) o ex-presidente Lula. Em outra, Moro teria falado em “limpar o Congresso”.

    Confirmando essa suspeita, qual então seria o motivo de vazar a conversa a um site notoriamente de oposição ao governo Bolsonaro e explicitamente pró partidos de esquerda (“explicitamente pró partidos de esquerda” é uma definição adequada?), como o The Intercept?

    A explicação mais divulgada, até o momento, para a obtenção da troca de mensagens é a da ação de um hacker. O que nos leva a mais perguntas: Por que o hacker correria tal risco? O que ganharia com isso? Estaria trabalhando a pedido de alguém? Estaria essa pessoa, tal qual um Adélio Bispo, o homem que esfaqueou o atual presidente durante a campanha eleitoral, agindo sozinha (Adélio realmente agiu sozinho?), por pura paixão a uma causa ou ódio a outra? Paixão por Lula, ódio a Bolsonaro ou o quê, afinal?

    Esse tema rende. E pode se desmembrar em muitos caminhos e descaminhos. Todos prováveis, palpáveis. Até mesmo os estapafúrdios, como as tantas teorias da conspiração que recebemos via redes sociais. Não há nada muito concreto, ainda. Por isso, cabe o alerta aos convictos, aos que acreditam estar do lado certo da história. A esses sugiro aguardar os próximos capítulos. E eles virão. Disso se pode ter certeza.


    lucas barrosoLucas Barroso

    Jornalista e escritor, autor de "Virose" (2013), "Um Silêncio Avassalador" (2016), "Um Gato Que Se Chamava Rex" (2018) e "O Tempo Já Não Importa" (2020).



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